Internet

As armadilhas da computação em nuvem

Written by Eduardo Santos · 2 min read >

Motivado pela queda do Gmail ontem resolvi escrever um pouco sobre computação em nuvem, que muita gente acredita ser a onda do futuro. Antes de continuar falando sobre o assunto, gostaria de pedir licença ao meu amigo Nerdson para reproduzir uma de suas tiras aqui:

Quadrinho do Nerdson

Isso também me remete ao termo que rolou na rede ha algum tempo: “Stallman contra as nuvens”. Para quem nao sabe o que significa o termo computação em nuvem pode se aprofundar sobre o assunto no Google, mas a idéia básica é transferir os seus documentos, arquivos de vídeo, música, enfim, tudo para a rede. Nesse conceito, o Desktop seria apenas uma ponte de conexão à Internet, que é onde o trabalho realmente acontece.

A queda de um serviço tão pouplar como o Gmail ontem, além de ser tecnicamente muito interessante como vocês podem conferir aqui, é um exemplo dos riscos que corremos ao colocarmos nossa vida na Internet. Acredito que a maior parte das pessoas só se deu conta de como era dependente do Google ontem, quando ficou sem acesso aos seus serviços. Tenho certeza que aí está incluída a maior parte da comunidade de Software Livre, para quem o Google facilita muito a utilização de serviços “em nuvem”.

De fato, para os defensores da liberdade, fica o alerta de que a briga do próximo século é a da informação. De que adianta ter acesso aos códigos dos sistemas que o Google utiliza se o mais importante que são os nossos dados estão dentro de seus servidores? Alguém pode dizer: “sim, mas é possível fazer um backup de suas informações no computador”. Devo concordar e dizer que isso é verdade, ou seja, felizes somos nós que temos como fazer uma cópia das informações e continuar utilizando. Contudo, usuário doméstico não dá dinheiro para ninguém. O foco dos serviços oferecidos pelo Google são as empresas, e o que a empresa, que não tem sequer datacenter porque acreditou na computação em nuvem, pode fazer diante de uma situação como a de ontem?

Ainda existe o perigo de outros serviços de maior valor agregado, como os fornecidos pelo site salesforce.com, que tratam de toda a vida financeira das empresas. O que acontece se ela ficar sem ter como acessar o serviço? Não recebe, não paga impostos, não paga fornecedores, enfim, a empresa para.

Temos que agradecer ao fato de os problemas de ontem terem sido técnicos. Afinal, o Google é uma empresa “do bem”, tanto que seu principal slogan é: don’t be evil. Contudo, o que vai acontecer quando os seus fundadores morrerem, e ela se tornar tão dominante do Mercado que poderá tomar decisões econômicas sozinha? Não acredito que eles vão cobrar de nós, simples usuários, pelo acesso ao serviço, mas eles podem decidir vender nossos dados pessoais a outras empresas como forma de agregar valor ao negócio. Mesmo tendo acesso ao código-fonte, o que nós poderíamos fazer diante de tal atitude?

Como já disse no post que escrevi sobre o facebook, pessoalmente não estou tão preocupado com isso. Sou uma das poucas pessoas nesse mundo que deve manter quase todas as informações relevantes no computador pessoal, e o que vai para a Internet eu simplesmente não ligo. Mas sei que posso ser vítima da faltad e privacidade quando decidirem utilizar-se do conteúdo das minhas mensagens. Sim senhores, é o Grande Irmão que chegou, e por mais que não pareça, seu nome é Google.

Vai acabar rendendo um outro post sobre a utilização dos dados dos usuários.

Written by Eduardo Santos
Desenvolvedor Open Source por vocação, Mestre em Computação Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB), professor universitário e cientista de dados (data scientist). Profile

12 Replies to “As armadilhas da computação em nuvem”

  1. Gente, o problema não é a Computação na Nuvem!!! O problema é confiar e achar que um serviço gratuito, onde a empresa fornecedora não tem nenhuma responsabilidade contigo, vai te atender satisfatóriamente. O Google tem mostrado que é possível fazer coisas maravilhosas com tecnologia da informação, mas quando algumas dessas maravilhas são direcionadas para o segmento corporativo, não há garantias. Se de uma hora pra outra o Google, o Twitter e outros tantos serviços gratuitos resolverem cobrar para utilizarmos, quantos permanecerão ativos?
    O sucesso destas ferramentas veio de um modelo interessante de negócio, mas de novo, “não é adequado para empresas¨. quem insiste em utilizar essas coisas está colocando os dados e informações de sua empresa realmente em risco, e talvez precise aprender mais a respeito de empreender, de inovar e de tratar o que realmente é importante no negócio. Não é cloud computing, rede local, internet discada ou banda larga, ……….é a cultura do empresário / empreendedor que não ultrapassou a barreira do fundo do quintal.

  2. Olá Marcos,

    Muito interessante o seu post, e realmente traz um novo elemento bastante importante. De fato, depender de um serviço que é gratuito é um pouco complicado, e as empresas não podem apoiar-se nisso. Nesse sentido, o empresário brasileiro tem sim uma cultura do grátis pouco favorável.

    Todavia, existem outros elementos que são muito importantes. Serviços pagos do Google ou até mesmo da Amazon já se mostraram bastante confiáveis, mas a questão que levanto é: até que ponto podemos confiar no caráter “neutro” de nosso provedor?

    O próprio Google está oferecendo um ERP totalmente online que promente ser o futuro da computação em nuvem, assim como o salesforce.com, mas o que acontece se você decidir trocar de fornecedor? Eles te entregam um arquivo .txt! E o que você vai fazer com um arquivo .txt de suas informações financeiras, quando todos os seus modelos e processos já estão na mão do fornecedor? A resposta é: nada.

    Esse é um modelo de dependência ainda pior que o famoso vendor lock-in. Ness ponto, as nuvens podem ser carregadas e assustadoras…

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