Ainda um pouco atordoado com a briga Google x China, que aliás vem esquentando bastante (veja mais um round aqui), eis que recebo do @cesaraovivo a seguinte notícia: http://tecnologia.ig.com.br/noticia/2010/03/25/nova+ferramenta+cria+a+navegacao+personalizada+9439913.html
Desconfiado como sou e alertado por ele, começo a me perguntar como a tal empresa poderia desenvolver uma tecnologia tão inteligente. Pesquiso um pouco e descubro esse post em seu blog. Recomendo a leitura até o final e a leitura de todos os links indicados. Sim, como eu desconfiava, trata-se de mais uma estratégia no mínimo perigosa para utilização dos dados pessoais do usuário.
O que a tal empresa faz é aplicar um algoritmo, que a princípio é bastante inteligente, de identificação de perfis de acesso baseado na navegação do usuário. Me parece que ele é capaz de identificar e categorizar todas as URL’s visitadas, para então fornecer a empresas de mídia a garantia de um anúncio “eficiente”, pois, como mapearam toda a sua vida na Internet, são capazes de dizer exatamente do que você gosta. Como quase tudo na tecnologia, parece uma ideia genial, mas a pergunta que esqueceram-se de fazer é: eles terão acesso a todo o meu histórico de navegação? Para responder a essa pergunta, leia a reportagem do The Register britânico (em inglês), onde a empresa começou e teve problemas com a legislação de respeito à privacidade, que tenta “dissecar” os pormenores da tal tecnologia.
Uma frase me chamou muito a atenção dentro de tudo o que eles disseram, e gostaria de compartilhá-la com vocês:
Net think tank: Phorm is illegal
The Foundation for Information Policy Research (FIPR), a leading government advisory group on internet issues, has written to the Information Commissioner arguing that Phorm’s ad targeting system is illegal.
Para quem não fala inglês (já disse, por mais que eu não goste, nessa profissão tem que saber) um resumo objetivo: “Phorm é ilegal”. Simples assim. Você sabe o que é um spyware? É aquele “negocinho” que invade a sua máquina para roubar informações, muito comum em usuários de Windows, e tenta ser impedido pelos bons programas anti-vírus. Pois essa é exatamente a definição que eles utilizam para o software da Phorm.
Você deve entender então o que eles estão fazendo no Brasil, e o Cesar também disse no link que coloquei acima, mas a notícia causa estranheza ao pessoal de fora do Brasil que entender de informática e conhece a história. Veja aqui. Afinal de contas – devem ter pensado os executivos da Phorm – o Brasil é um país sem lei, e dinheiro abre as portas muito mais facilmente. Eis que a empresa aparece aqui com não apenas um, mas 5 (sim CINCO) acordos com provedores locais.
Já tenho falado sobre a questão da privacidade há bastante tempo, e nos arquivos do blog é possível encontrar bastante material sobre o assunto, principalmente na tag liberdade aí ao lado, então já devem saber a minha opinião. A única coisa que faltou ser dita aqui é que a Phorm faz exatamente a mesma coisa que faz o Google (já estou falando neles novamente. Vou tentar parar…). Sim o Google, nosso amigo bondoso, ou Amigoogle para os íntimos, que é tão respeitado e nunca antes questionado, tirando é claro pela ousada China. A principal diferença, entretanto, se dá pela maneira com a qual as informações são coletadas: enquanto o Google só coleta as informações que você insere em seus serviços (ou seja, tudo) o pessoal da Phorm tem acesso a todo o seu histórico de navegação sem que você saiba.
Veja, o problema, para os órgãos de controle, não é o fato de a empresa ter acesso às suas informações, e sim você não saber disso. Agora eu recomendo fortemente que você leia os termos de serviço do Google e do Orkut. Reflita se há tanta diferença assim. Na verdade, o grande problema é que ninguém lê nada, ou se lê não tem capacidade de entender. Sim, também já escrevi sobre isso aqui, e há um material mais extenso na área de publicações aqui do Blog. Mas o assunto hoje não é o Google, e sim a Phorm.
Para evitar o seu trabalho de ler os termos do tal serviço Navegador, vou tentar fazer aqui um resumo do que eles prometem fazer e não fazer. A reportagem alega que protege a identidade do usuário fornecendo um identificador único a cada acesso, e escondendo dados sobre o seu IP. Então eu te pergunto: se eu disser a alguém que conheço uma pessoa que tem conta no banco tal, trabalha na empresa tal, costuma realizar os acessos tais e tais em tais horas, ou que tem tal conta em rede social X, não dá pra identificar quem é? Com o poder consolidador das bases de usuários e e-mails que são vendidas no Mercado, chega a ser trivial cruzar as informações, principalmente para uma empresa que tem tanta “inteligência” computacional. Por isso, FUJA DOS PROVEDORES QUE ASSINARAM COM A PHORM. O problema no Brasil é que normalmente não há tantas opções assim de provedor, e não há como simplesmente mudar. Então faça barulho, reclame, divulgue, mande um e-mail para o seu deputado, enfim, se mexa, pois foi assim que eles conseguiram derrubar a empresa no Reino Unido. Mobilização popular e imprensa desmascararam e o Mercado fez o resto.
Obs.: (também já feita pelo Cesar) Por que os outros se calaram? Onde estão Estadão, UOL, enfim, os outros, que sequer se manifestaram? Será que eles iam simplesmente vender seus dados sem sequer te avisar? Acredito que muito provavelmente a resposta é sim.
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Pingback: Phorm Turns Up In Brazil « View From Planet Jamie 27 de March de 2010
[…] In Brazil word is starting to spread about Phorm’s previous history (translation here) in spyware and the backlash against Phorm here in the UK. Phorm just don’t understand that privacy is an issue for people all over the world. Or they just don’t care. […]
Pingback: Os números de 2010 « Eduardo Santos 3 de January de 2011
[…] A China é aqui – Phormando um monopólio março, 2010 8 comentários […]