Finalizado mais um Consegi, onde tive a oportunidade de reencontrar alguns bons amigos como Patrício Astorga e Carlos Martín, e ainda conhecer pessoas fantásticas como o grande amigo Ramón Ramón, percebo que de alguma forma estamos presenciando o nascimento de uma dinâmica coletiva interessante na América Latina. No IV ENSOL estava conversando e tomando umas (ou fazendo “musculação”, como aprendi lá) com o Jomar, quando iniciamos uma análise da comunidade de Software Livre no Brasil. Na verdade, mais um desabafo de minha parte do que uma discussão propriamente dita. Às vezes acho que tem muito mais gente atrapalhando do que ajudando as comunidades, a chegar ao ponto de duvidar se tal comunidade realmente existe.
Lá pelas tantas da conversa, começamos a compartilhar nossas experiências na América Latina e ele me disse uma coisa que ficou martelando a minha cabeça: há a formação de um núcleo duro entre os nossos irmãos, que ficou muito evidente no combate ao OpenXML e que aparece em outras oportunidades. Lembrei um pouco de minhas viagens recentes, as pessoas que econtrei e conheci por aí, e comecei a fazer um paralelo entre o que ele falou e o que eu tinha visto.
Ao sair do Consegi, percebo que as palavras do Jomar têm, de fato, cada vez mais razão. Está acontecendo uma revolução ideológica muito clara na América Latina, mais em alguns países do que em outros, mas em todos discussões importantes têm acontecido. A entrevista do Oliver Stone ao Kennedy Alencar ilustra muito bem o fato. Curiosamente ou não, a entrevista foi ao ar na Rede TV e não na poderosa, o que pode ser emblemático para o que está acontecendo. Vou roubar uma de suas frases:
É a primeira vez na América Latina que os governantes se parecem com os governados.
Ao aparecer em eventos percebemos como os laços realmente existem e são fortes. Minha visão é que não se trata de um movimento de esquerda ou de direita, e sim do povo pedindo passagem. O Software Livre é uma expressão perfeita para o contexto: não é possível gastar milhões em licenças de software que podem ser substituídos por alternativas livres em países com tantas necessidades de saúde e educação, principalmente. Obviamente, há ainda a questão da soberania nacional que é a mais importante, mas ainda que todos não estejam preocupados com isso, chegamos facilmente a um ponto onde o Software Livre é fundamental, ainda que por caminhos diferentes.
A maior que contribuição que o Software Público pode dar aos nossos amigos talvez seja levar em consideração todos os aspectos inerentes ao Software. Não somente a distribuição, que já foi resolvida pelo Software Livre, mas também a qualidade do produto e a criação de um ecossistema de empresas e usuários que contribuam para a criação de uma base comum de produção. Ou seja: o software é um meio, mas não pode e não deve ser encarado como o fim. Quando o código é liberado é que o trabalho começa, e muitas vezes é um trabalho maior que o desenvolvimento.
Aos amigos, um abraço e obrigado por visitar a minha cidade.
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Pingback: Admirável Mundo Novo « Eduardo Santos 20 de September de 2010
[…] partido político ou ideologia, mas uma decisão que soberania nacional em favor do Software Livre. Escrevi sobre isso ainda outro dia, e por não ter um núcleo definido fica mais difícil atacar ou retaliar. Aliás, numa análise […]