Pode parecer absurdo, mas a notícia é verdadeira ao que tudo indica. Os Estados Unidos, em mais uma daquelas atitudes que só podem mesmo acontecer na terra do Tio Sam, estão prestes a adotar uma regra que vai permitir que sejam adotadas medidas de “resposta” militar a ataques virtuais. Isso significa que eles podem bombardear os outros se desconfiarem que o ataque virtual veio de outro país.
Estava ouvindo o Nerdcast outro dia e o pessoal comentava do absurdo que foi a operação militar no Paquistão que resultou na morte do Osama. Os EUA invadiram um outro país SEM AUTORIZAÇÃO com seus helicópteros militares e atiraram numa casa de um cidadão do país em uma zona residencial. Ou seja: eles são hoje os senhores do mundo e fazem basicamente o que querem em nome da Segurança Nacional. Vamos imaginar a hipotética cena, que está presente em quase todos os jogos de videogame feitos por empresas americanas que envolvem guerras (os famosos FPS): há um ataque a alguma grande empresa americana que pode comprometer seriamente a segurança do país. Quem seriam os potenciais autores dos ataques? Você, que joga videogame, já sabe a resposta de cor: Coréia do Norte, China e até mesmo os russos, por que não?
A questão é que a tal invasão realmente aconteceu. A empresa Lockheed Martin, que fabrica os principais jatos da força aérea e vários outros aparatos de segurança, sofreu um sério ataque há mais ou menos 10 dias. Como eu disse no post sobre a PSN, diferentemente da Sony a empresa citada tem um forte esquema de segurança virtual, e mesmo tendo sofrido um ataque muito sofisticado (seguramente mais sério do que o realizado à PSN) não teve nenhuma informação sensível comprometida. Contudo, a simples possibilidade de comprometer alguns dados sensíveis – que em minha opinião jamais deveriam estar em uma empresa privada – gerou o famoso pânico americano que causa tanta insensatez em suas ações. E o que eles fazem quando entram em pânico? Saem jogando bombas nos outros, mesmo que não haja razão para fazê-lo (o povo do Iraque que o diga).
Vão surgir várias justificativas dentro da própria sociedade, dizendo que uma ação orquestrada como a que aconteceu na Lockheed e na RSA só pode ter vindo de um outro governo, e todo o mundo (inclusive a imprensa brasileira) vai achar normal eles saírem jogando umas bombas por aí. A questão que devemos discutir é: será que jogar algumas dúzias de bombas resolve o problema?
Combater ameaças no ciberespaço é bem mais complicado do que combater o que os americanos estão acostumados. Primeiro, porque é muito difícil localizar a fonte do ataque. Ele pode vir basicamente de qualquer computador ou rede de computadores domésticos espalhados ao redor do mundo. Segundo, porque o próprio conceito de autoria é difuso e complexo. Como saber quem foi a pessoa que o iniciou? Podemos chegar a um computador, mas teríamos que cruzar com outras informações para saber quem de fato o estava utilizando. A terceira e derradeira razão é que dificilmente tal ataque parte de uma única pessoa; normalmente se tratam de grupos organizados especialmente preparados para a atividade criminosa.
Chegamos então a pergunta que devemos responder: onde vai cair a bomba? Ou você realmente acha que os EUA vão deixar de jogar bombas em alguém? Faz parte da cultura deles, e mais importante do que impedir que os próximos ataques aconteçam é localizar e matar o culpado. Se pegarmos os dados mundiais sobre computadores infectados – que podem ser vistos em tempo real aqui – veremos que lideram as estatísticas Taiwan, Rússia, China, Espanha Argentina e Brasil. Os dados não levam em conta as botnets, que são ameaças ainda maiores. Então pense como um gestor americano: seu país foi atacado e você precisa jogar bomba em alguém. Pode ser muito difícil ou demorado chegar à real fonte do ataque, mas é possível afirmar que alguns dos computadores dos países acima estavam envolvidos. O que você faria? Obviamente, os primeiros culpados são China e Rússia. Vamos jogar umas bombas neles e explicar depois?
Para finalizar, lembrem-se do que eu disse do caso China contra o Google. Parte da guerra que parece absurda é real e já está acontecendo, mas como os chineses já perceberam, não será vencida com bombas. O próxima grande batalha mundial é a guerra da informação e contra-informação, e algumas empresas americanas já sabem disso. A China já se preocupa com o fato faz tempo. Veremos as cenas dos próximos capítulos.
P.S.: Só para não deixar de dar minha opinião, não acredito que o ataque foi orquestrado por algum país. Tem mais cara de ação criminosa do que outras coisas, mas não dá pra afirmar com certeza.